Dinâmica da Sintegração
Dinâmica de Sintegração
Na última quinta-feira 06/10, foi realizada uma dinâmica de
debates sobre os textos lidos, são ele: “Teoria do Não-objeto” de Ferreira
Goulart, “Por uma arquitetura virtual: uma crítica das tecnologias digitais” de
Ana Paula Baltazar, “Magia além da ignorância: virtualizando a caixa preta” de
Ana Paula Baltazar e José dos santos Cabral Filho, “Design: um obstáculo para remoção
de obstáculos?” de Vilém Flusser, “Arquitetura, interação e sistemas” Usman
Haque e “Opus one, number two” de John Chris Jones. A partir dessa leitura, a
turma foi dividida em grupos os quais haviam debatedores, críticos e observados
participando do debate de um tema.
Ao meu
primeiro grupo, no qual fui designada à crítica, foi determinado discutir as
possibilidades de interfaces com as quais as próprias pessoas engajem para dar
continuidade na produção (como proposto por Haque) tendo em mente a mudança de
foco do produto para o processo. A partir desse pretexto, muito foi discorrido
sobre a abordagem de Haque quanto a esse assunto, os debatedores citaram
exemplos na prática, que seriam correspondentes as possíveis interfaces as quais
incitassem a interação das pessoas o que, contudo, ao meu ver, não abrangeu a
totalidade da teoria desse autor pois, muitos dos exemplos utilizados se
tratavam de uma interação proativa, onde o espaço respondia as ações do
ocupante e se transformava como desejado, porém, não havia uma interação no
sentido contrário, para alcançar a circularidade, tanto falada por Haque.
Além disso, foi tratado sobre parâmetros
de uma forma em que não consegui enxergar o alcance da parametrização, pois não
pude ver nos parâmetros citados uma possibilidade de continuidade e um foco no
processo e atualização do produto. Portanto, não relacionou a teoria de Jones, na
qual o autor ressalta que é necessário dar um passo para trás a fim de deslocar
as motivações do design transformando a ideia do produto, que tem um objetivo,
em a ideia do processo, que não o possui, dessa forma reduzindo as limitações e
promovendo a interação, como dito no trecho: “... shift from product-thinking to
process-thinking.”.
Por fim, ao meu ver, a proposta da
discussão levaria a debates que discorressem sobre trabalhos os quais se encaixassem
numa lógica programática, que pode ser vista em ambos os autores, no sentido possuir
interfaces (causas) que atraiam a participação das pessoas, mas que estas, no entanto,
limitem minimamente o conteúdo (resultado) produzido pelas interações, ou seja,
há presença do acaso no processo e este é o objetivo, além de que promovam a existência
temporária da obra, somente à medida em que há interação.
O grupo de discussão
dois em que participei como observadora, foi proposta a problematização das
possibilidades na cidade tanto do modelo convencional de arquitetura, pautado
por produção-consumo, quanto, do modelo alternativo no qual o ocupante tem o
papel principal na configuração do espaço que habita (conforme proposto por Haque).
A partir disso, os debatedores apontaram argumentos no sentido de enxergar a
teoria de Haque em situações reais, em que o ocupante interage e muda o espaço,
foram citados exemplos de arquiteturas em que há diversas possibilidades intencionais
de modificações, de acordo com as demandas do espaço.
Além disso, para mim, em situações mais
habituais, o contraste entre arquitetura convencional e aquela em que há
interatividade, seguindo ainda a teoria do autor, expõe duas posturas de
arquitetos contrárias: o primeiro sendo aquele que se impõe sobre o ocupante e
produz de acordo suas próprias aspirações, intenções e gostos, criando uma rigidez
do projeto, o que me lembra muito o conceito de “arquiteto-pai” de Le Courbusier,
pois se presume que sua formação permite escolher o que é ideal no espaço.
Já no segundo caso, vejo que o papel do
arquiteto se desloca para pensar as interfaces em vista da continuidade do projeto,
ou seja, apesar de sua função deixar de ser impositiva e passar a considerar as
características de interatividade do espaço com o ocupante, pois é este quem
usufruirá do espaço, não significa que se deva entregar um projeto completamente
livre de pré-determinações para ser ocupado pelas pessoas da forma como
quiserem, mas que o esforço deva ser no sentido de reduzir as limitações do uso
por meio de uma substância, real e com potencial, não desconectada do posterior
evento a ser atualizado pelo ocupante.
No terceiro momento participei como
debatedora e o tema foi a discussão das possibilidades do programático, do acaso
e a abertura para a interação dialógicas. Nessa lógica, o pensamento do grupo
foi muito em direção à relação entre nossos trabalhos realizados na disciplina
de AIA e a lógica programática discutida desde de o início do semestre. Nesse
sentido, nós conseguimos enxergar com mais clareza, após a leitura dos textos,
como, em tudo que tem sido feito, existe essa lógica como objetivo e, quando
ela acontece, o acaso traz contribuições fundamentais ao trabalho.
Ademais, conversamos sobre como lidar
com toda a graduação a partir desse pensamento traz benefícios durante todo o
curso e também na futura atuação profissional, pois, se olharmos para essa
vivencia partir do preceito de que vivemos um constante processo e nunca haverá
uma formação pronta e acabada, conseguimos viver uma constante absorção prazerosa
de tudo que nos é apresentado e oferecido. Além disso, discutimos sobre alguns
exemplos práticos de espaços dialógicos como o Skyear, presente no texto de Haque,
em que uma nuvem de fibra de carbono composta por milhares de balões de hélio
respondia à campos eletromagnéticos produzidos por ligações telefônicas.
O meu quarto grupo tratou sobre objeto,
quase objeto e não objeto, minha participação foi como debatedora. Nesse debate
surgiram vários exemplos de não objetos, dentre eles o que mais gerou pauta foi
a máscara de espelhos da Lygia Clark, a partir dessa obra foi possível discutir
sobre o seu caráter virtual, pois esse sistema em aberto se completa a partir
da interação com o indivíduo e de forma temporária, permitindo a atualização de
si ao ser utilizada, ela, apesar de possuir interface, abre espaço para o uso e
a experiencia única de quem veste. Já quanto ao quase objeto houveram discordância
e dúvidas em relação ao que se enquadra nessa classificação, ao final, o que
julgamos ser mais pertinente como exemplos seria uma obra da última bienal em
que várias pias foram expostas, deslocadas de sua função original, essa
proposta bastante dadaísta se encaixou como quase objeto para o grupo.
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